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O Algoritmo da Decisão


*Por Dr. Martin Portner

Do ponto de vista do funcionamento dos neurônios mais bem preparados do cérebro dos brasileiros, o ano de 2017 foi um desastre. Nada poderia ter feito mais mal à formação dos circuitos produtivos que envolvem as estações de trabalho da memória, do juízo crítico e da tomada de decisões do que o ano que está para findar. Sim, todos conhecem o adágio que reza que tudo que está ruim, pode piorar. Mas esperamos que Deus, sabidamente brasileiro, nos livre dessa penitência!

Os neurônios (as células operacionais do cérebro) encarregados de tomar decisões representam o que há de melhor para a autonomia do ser humano. São eles que avaliam as condições oferecidas por determinado problema e se lançam à busca de soluções. Eles possuem acesso aos bancos de memória, mesmo de eventos ou situações das quais não lembramos mais. Essa recuperação é confrontada com informações recentes obtidas pelo aprendizado formal (os anos de estudos) e informal (tecnologia digital, redes sociais). Além disso, a situação recebe um coeficiente emocional: há pressa para a solução? Traz risco ao indivíduo dependendo da solução encontrada?

Outro ingrediente dessa fórmula complexa é o uso que esses neurônios fazem de um mecanismo secreto chamado de “sugestão intuitiva”. Quando você se prepara para fazer um investimento que passa por certo risco, a tomada de decisão suspende temporariamente as informações da memória e dos ensinamentos técnicos para consultar o estômago. Não o órgão em si, mas as redes neurais escondidas nas paredes do aparelho digestivo e do coração-pulmões. Esse sistema interno de consulta foi desbravado através de anos em pesquisas prodigiosas conduzidas pela equipe do neurocientista português-americano Antonio Damasio em duas universidades norteamericanas. Basicamente, os experimentos realizados demonstram que pessoas que apresentam dano aos neurônios que leem dados provenientes das redes neurais do estômago e do coração – como, por exemplo, em um AVC de poucas proporções na parte inferior do cérebro – não apresentam nenhum problema em relação aos movimentos dos membros, da fala, da memória ou da inteligência. São pessoas normais; contudo, são acometidas de uma paralisia diante de situações que exigem uma simples decisão, como agendar uma consulta médica ou quando receber um cliente no escritório. São pessoas que funcionam globalmente da mesma forma que as outras, mas não lhes é possível decidir sobre questões da sua vida porque os andamentos que regulam o organismo não podem mais ser acompanhados no subconsciente.

Esse sistema integrador funciona como um algoritmo, medindo o peso relativo de cada influência e, depois, influenciando a escolha nesta ou naquela direção. O algoritmo precisa de determinadas condições para funcionar. Alimentos saudáveis, movimentação dos músculos, ausência de influenciadores tóxicos como o tabaco ou drogas e conflitos emocionais resolvidos são algumas.

*Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness. www.martinportner.com.br

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